terça-feira, 28 de setembro de 2010

Passos Coelho pisoteia acordos e pressiona aumento de impostos

As recentes manobras de diversão por parte do líder do PSD, Passos Coelho, mais não visam que dar azo a um Orçamento de Estado que aumente a receita à custa de impostos, sejam eles o IVA, o IMI, ou ambos. Tudo com vista a preparar o terreno para eventuais eleições antecipadas após a posse do futuro presidente da República, o que só ocorrerá após 9 de Março. E na perspectiva, cada vez mais infundada, a ter em conta as mais recentes sondagens, de que o PSD lograria uma vitória eleitoral.
Ou seja, o PSD finge que não quer viabilizar o Orçamento, mas no fundo saliva pela sua aprovação, desde que tal incumba apenas ao PS e que, evidentemente, se traduza num cardápio de medidas duras, seja em aumento de impostos seja na redução dos salários da função pública ou, prouvera, na retenção do 13º mês.

E se tal se reitera, é porque está cada vez mais inteligível que escondida por trás das palavras tonitruantes de Passos Coelho de que só viabiliza o OE se ele não contiver acréscimo de impostos, a verdade é bem outra. O que o líder dos social-democratas almeja é, mesmo, que Sócrates só consiga apresentar e fazer um Orçamento em que a receita seja conseguida à conta dos impostos que Passos Coelho bem deseja, mas sobre os quais não quer assumir um pingo de responsabilidades.

Só isso explica que Passos Coelho tenha o despudor de pisotear o acordo, firmado no âmbito do 2º PEC, relativo às deduções fiscais, em matéria de saúde e educação, responsavelmente celebrado pela sua antecessora, Manuela Ferreira Leite, e que visava ser um instrumento de alargamento da base contributiva fiscal do Orçamento de Estado para 2011, tanto mais que a generalidade dos especialistas sempre consideraram que as deduções fiscais são, descaradamente, mais benéficas para os contribuintes com rendimentos mais elevados.

Tudo indica que a manter-se o anterior acordo, firmado em Maio passado com a anterior líder do PSD, seria possível aumentar a receita, nos montantes adequados e necessários, com base no alargamento da base contributiva, e tendo em conta que a despesa dá seguras indicações de que pode estreitar, dentro dos limites indispensáveis e sem atingir os sectores da despesa em áreas de saúde, educação e apoios sociais relevantes, sem prejuízo, obviamente, da racionalização de desperdícios e de despesas não essenciais.

Isto é, se Passos Coelho abdicasse do fervor propagandístico, de que o processo de revisão constitucional foi um estafado exemplo, e se tivesse o sentido de estado necessário para dar prioridade a Portugal e aos portugueses, talvez que não estivéssemos, ainda, debaixo da sistemática flagelação das agências de “rating” e dos mercados.

A continuar por este caminho de enganos e desenganos, Passos Coelho deixará passar a oportunidade de que precisa para se afirmar definitivamente no seu partido. Mas para isso, dirão muitos, há sempre um Rui Rio…

Porém, os países não podem ser subsumidos aos partidos e aos seus interesses, daí que ainda se espere que Passos Coelho deixe de lado os “spins” de feição radical e oportunista e acolha, pelo contrário, as opiniões responsáveis dos que querem ver Portugal e os portugueses respeitarem e cumprirem os seus compromissos internacionais de diminuírem o défice para os níveis acordados nos anos de 2010/11.

Vale por dizer, Passos Coelho não é deputado, mas não pode alijar as responsabilidades que são inerentes ao líder do principal partido da oposição. Ou seja, é-lhe vedado ficar mudo e quedo, a assistir das galerias à abstenção não responsável dos deputados do seu partido, vazando, deste modo, uma crise política sobre uma crise orçamental.


Osvaldo Castro

6 comentários:

Ana Brito disse...

Caro Amigo Osvaldo
Excelente texto - lúcido, elucidativo, construtivo e crítico.
Sinceramente não acredito que o PSD chumbe o orçamento...Penso que vamos ter Orçamento do Estado para 2011 e é inegável que o país precisa dele para alavancar todo o processo de (re)estruturação que foi iniciado, que se encontra em marcha e não pode parar, porque as metas têm que ser atingidas e os dados foram lançados nesse sentido.
Com optimismo, um Grande Abraço com Amizade :)
Ana Brito

folha seca disse...

Caro Osvaldo

Clarinho como água!
Abraço

Ana Paula Fitas disse...

Caro amigo Osvaldo Castro,
Fiz link :)
Obrigado.
Um grande abraço.

Carta a Garcia disse...

Cara Ana Brito,
Obrigado pela simpatia e complacência das S/ palavras.
Abraço Amigo,
OC

Carta a Garcia disse...

Espero que sim, Folha Seca,
Continuao a pensar que PPCoelho exigiu estas medidas, mas sempre assobiou para o ar no tocante às responsabilidades.
E agora finge que não vota, mas prepara-se para mandar o seu Grupo Parlamentar abster-se...e assim viabilizar um Orçamento que,sendo necessário ao país, gera impopularidade a quem teve a coragem de o propôr-Sócrates-.
É isso que é preciso pôr à mostra...
Abraço,
OC

Carta a Garcia disse...

Cara Ana Paula,

Obrigado,é para mim uma honra...
Abraço Amigo,
OC