terça-feira, 5 de abril de 2011

Sócrates lamenta ter sido “o único dirigente político” a alertar para consequências do chumbo do PEC

Lisboa, 04 abr (Lusa)


O primeiro-ministro demissionário, José Sócrates, lamentou hoje ter sido “o único dirigente político” a alertar para as consequências do chumbo do PEC e afirmou que fará “tudo” para evitar um pedido de ajuda externa, recusando antecipar esse cenário.


Questionado se o Presidente da República deveria ter tido um papel mais ativo na promoção de consensos em torno do Programa de Estabilidade e Crescimento, José Sócrates disse ter sido “o único dirigente político a alertar o País”, defendendo que “estava bem consciente dos riscos que Portugal corria se o PEC não fosse aprovado”.


“Lamento muito ter sido o único a falar nisso”, declarou, em entrevista à RTP, argumentando que “o chumbo do PEC significou uma mensagem para os mercados: os portugueses não querem mais austeridade”. “As consequências estão à vista”, disse, apontando o corte no rating da República e cortes no rating do sistema financeiro.


Sem garantir que não fará um pedido de resgate, o primeiro-ministro afirmou que “o cenário de ajuda externa é um cenário de ultimo recurso”. “Farei tudo para evitar que isso aconteça. Faz parte da estratégia de impedir que isso aconteça não discutir esses cenários”, afirmou.


Confrontado que com uma eventual supressão do 13º mês, Sócrates disse que os funcionários públicos “claro que vão receber” o subsídio de férias. O primeiro-ministro demissionário disse que o Governo utilizará “todos os instrumentos” ao seu alcance para pagar os juros da dívida que vence em junho.


“Não podemos revelar toda a nossa estratégia aos mercados”, disse, para justificar não concretizar que instrumentos são esses e sublinhando que o Executivo passou “estes meses a enfrentar a especulação dos mercados”. Sócrates insistiu na ideia de que o recurso ao Fundo Monetário Internacional (FMI) envolve “programas muito severos” na Grécia e na Irlanda, com custos para as populações, sem que esses países tenham melhorado “a sua situação nos mercados secundários”.


“Entre nós e o FMI há 10 milhões de portugueses que pagarão por isso”, afirmou.


O primeiro-ministro voltou a acusar a oposição, nomeadamente o PSD, de ter chumbado o PEC sem apresentar propostas e repetiu a explicação sobre não ter informado previamente o Presidente da República do conteúdo daquele pacote de medidas, cuja apresentação foi antecedida da tomada de posse de Cavaco Silva e da discussão de uma moção censura no Parlamento.


“O meu dever é informar o Presidente da República, não é informar previamente”, disse.


ACL/Lusa

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