Está bom de ver, por estes dias de canícula de Agosto, que há muito quem entenda que as eleições se podem ganhar surfando as ondas do populismo bacoco, enveredando pelo suporte às maquinações mais tendenciosas que a democracia portuguesa alguma vez viu. Refiro-me, obviamente, ao respaldo que o PSD e outros partidos da oposição foram dando à flagelação sistemática do governo e em especial do primeiro-ministro José Sócrates.
Não terá bastado que se tivessem ultrapassado todos os limites penais e constitucionais e que se pulasse a cerca da reserva dos valores democráticos e que 2 deputados, um do PSD e outro do PCP, se arrogassem ao direito de conhecerem escutas indirectas, autorizadas para um determinado procedimento penal. Ora, como é sabido e sustentado pela melhor doutrina e jurisprudência penais, tal tipo de intercepção às comunicações não pode ser usado fora do processo penal e muito menos em Processos Disciplinares ou Comissões de Inquérito, como foi o caso.
E, afinal, com que objectivos, senão os de assassinato de carácter?
Não terá bastado que se tivessem ultrapassado todos os limites penais e constitucionais e que se pulasse a cerca da reserva dos valores democráticos e que 2 deputados, um do PSD e outro do PCP, se arrogassem ao direito de conhecerem escutas indirectas, autorizadas para um determinado procedimento penal. Ora, como é sabido e sustentado pela melhor doutrina e jurisprudência penais, tal tipo de intercepção às comunicações não pode ser usado fora do processo penal e muito menos em Processos Disciplinares ou Comissões de Inquérito, como foi o caso.
E, afinal, com que objectivos, senão os de assassinato de carácter?
Verdade é que, no fim da mencionada Comissão de Inquérito ao caso conhecido por PT/TVI, as oposições optaram por “conclusões” absolutamente inconclusivas, sem deixar de tripudiar sobre a verdade dos factos apurados, e, finalmente, nada propuseram de concreto, nem nada remeteram ao PGR que indiciasse qualquer acção de natureza, sequer “indiciária”, de qualquer eventual crime por parte de qualquer membro do governo e designadamente do primeiro-ministro.
Tratou-se, portanto, de pura tentativa de desgaste do primeiro-ministro numa matéria em que foi visível o desnorte do PSD, que chegou mesmo a zurzir com violência e deselegância o presidente da referida Comissão, Mota Amaral, destacado membro do PSD, apenas porque se limitou a defender, sem peias, a legalidade e o cumprimento da Constituição.
E se de sentido de estado se fala no título, tudo se reconduz a deixar claro que na recente “crise” da justiça, diversos dirigentes do PSD se têm comportado sem a contenção e a reserva que é indispensável ao bom funcionamento das instituições de que a justiça é um dos pilares fundamentais.
Entende-se bem que o maior partido da oposição e alguns dos seus principais dirigentes não tenham gostado do desfecho do processo Freeport no concernente a José Sócrates e demais elementos do aparelho governamental e administrativo.
Para alguns dos fautores das queixas anónimas e para alguns dos que terão investido tudo na política de “fim de ciclo” de Sócrates, através da politização da justiça, óbvio se torna que ao fim de 6 anos de suspeitas, insinuações e calúnias, deparar com um processo que apenas acusa dois empresários por extorsão tentada, é no mínimo frustrante para quem tinha a expectativa de ver o primeiro-ministro de Portugal sentado no banco dos réus. Não obstante ser conhecido, e desde há muito, que após escrutínio rigoroso aos factos e às movimentações das suas contas, nada havia susceptível de indiciar Sócrates e nem sequer de o ouvir como arguido, mas tão só como testemunha, atenta a acusação formulada.
É também por isso que é lamentável que sectores da oposição, com dirigentes do PSD na ponta da lança, insistam em manter quente o que já resfriou por exaustão de argumentos e de criatividade em matéria de barganha judiciária.
Refiro-me às frustres tentativas de manter em lume quente o processo Freeport, agora visando demitir o PGR ou atingir a honorabilidade de uma magistrada respeitada e prestigiada como Cândida Almeida.
Fingindo ignorar que eventuais erros procedimentais, em sede de inquérito, em nada podem ser assacados ao primeiro-ministro e que para efeito de apuramento de responsabilidades já corre um inquérito ordenado pelo PGR, o que necessariamente deve implicar que se aguardem as respectivas conclusões, antes de se perorar sobre eventuais ilações, que por apressadas podem induzir em avaliações precipitadas.
O que vale é que os portugueses já compreenderam, e a última sondagem SIC/Expresso é nisso muito clara, que Sócrates foi alvo de incomensuráveis atoardas e daí que a citada sondagem o dê como o único líder partidário a subir na referida amostra, invertendo situações anteriores que reflectiam o clima de dúvida sistemática instilada.
É também por tudo isto que se compreende, mas lamenta, a insistência de Passos Coelho em continuar a anunciar a entrega de um projecto de revisão constitucional, logo na abertura da Sessão Legislativa, em 15 de Setembro, o que sempre implicará, por imperativo legal, que os demais partidos disponham de um prazo de 30 dias para apresentar o seu próprio projecto de revisão, o que vale por dizer, até à data de 15 de Outubro, o que coincide, dia por dia, com a apresentação na Assembleia, pelo governo, do Orçamento de Estado para 2011.
Ou seja, a confessada intenção de querer abrir uma discussão sobre graves propostas de revisão da CRP, em cima da discussão do Orçamento e escassos meses antes das eleições presidenciais, só pode significar que o PSD depois de dar com “os burrinhos na água” em matéria de Comissão de Inquérito e de processo Freeport, sente agora que tem de virar o jogo para questões com impacto de gravidade contra os direitos fundamentais e de indiscutível relevo, como é exemplo a matéria dos poderes presidenciais, sempre visando disfarçar a chusma de erros em que Passos Coelho caiu quando se deslumbrou com os primeiros indicadores favoráveis.
Trata-se de um clamoroso erro que vai onerar politicamente o novel líder do PSD, a não ser que, num momento de lucidez, entenda que a revisão constitucional deve aguardar o seu tempo próprio, o mesmo é dizer, nunca antes das eleições presidenciais.
Tratou-se, portanto, de pura tentativa de desgaste do primeiro-ministro numa matéria em que foi visível o desnorte do PSD, que chegou mesmo a zurzir com violência e deselegância o presidente da referida Comissão, Mota Amaral, destacado membro do PSD, apenas porque se limitou a defender, sem peias, a legalidade e o cumprimento da Constituição.
E se de sentido de estado se fala no título, tudo se reconduz a deixar claro que na recente “crise” da justiça, diversos dirigentes do PSD se têm comportado sem a contenção e a reserva que é indispensável ao bom funcionamento das instituições de que a justiça é um dos pilares fundamentais.
Entende-se bem que o maior partido da oposição e alguns dos seus principais dirigentes não tenham gostado do desfecho do processo Freeport no concernente a José Sócrates e demais elementos do aparelho governamental e administrativo.
Para alguns dos fautores das queixas anónimas e para alguns dos que terão investido tudo na política de “fim de ciclo” de Sócrates, através da politização da justiça, óbvio se torna que ao fim de 6 anos de suspeitas, insinuações e calúnias, deparar com um processo que apenas acusa dois empresários por extorsão tentada, é no mínimo frustrante para quem tinha a expectativa de ver o primeiro-ministro de Portugal sentado no banco dos réus. Não obstante ser conhecido, e desde há muito, que após escrutínio rigoroso aos factos e às movimentações das suas contas, nada havia susceptível de indiciar Sócrates e nem sequer de o ouvir como arguido, mas tão só como testemunha, atenta a acusação formulada.
É também por isso que é lamentável que sectores da oposição, com dirigentes do PSD na ponta da lança, insistam em manter quente o que já resfriou por exaustão de argumentos e de criatividade em matéria de barganha judiciária.
Refiro-me às frustres tentativas de manter em lume quente o processo Freeport, agora visando demitir o PGR ou atingir a honorabilidade de uma magistrada respeitada e prestigiada como Cândida Almeida.
Fingindo ignorar que eventuais erros procedimentais, em sede de inquérito, em nada podem ser assacados ao primeiro-ministro e que para efeito de apuramento de responsabilidades já corre um inquérito ordenado pelo PGR, o que necessariamente deve implicar que se aguardem as respectivas conclusões, antes de se perorar sobre eventuais ilações, que por apressadas podem induzir em avaliações precipitadas.
O que vale é que os portugueses já compreenderam, e a última sondagem SIC/Expresso é nisso muito clara, que Sócrates foi alvo de incomensuráveis atoardas e daí que a citada sondagem o dê como o único líder partidário a subir na referida amostra, invertendo situações anteriores que reflectiam o clima de dúvida sistemática instilada.
É também por tudo isto que se compreende, mas lamenta, a insistência de Passos Coelho em continuar a anunciar a entrega de um projecto de revisão constitucional, logo na abertura da Sessão Legislativa, em 15 de Setembro, o que sempre implicará, por imperativo legal, que os demais partidos disponham de um prazo de 30 dias para apresentar o seu próprio projecto de revisão, o que vale por dizer, até à data de 15 de Outubro, o que coincide, dia por dia, com a apresentação na Assembleia, pelo governo, do Orçamento de Estado para 2011.
Ou seja, a confessada intenção de querer abrir uma discussão sobre graves propostas de revisão da CRP, em cima da discussão do Orçamento e escassos meses antes das eleições presidenciais, só pode significar que o PSD depois de dar com “os burrinhos na água” em matéria de Comissão de Inquérito e de processo Freeport, sente agora que tem de virar o jogo para questões com impacto de gravidade contra os direitos fundamentais e de indiscutível relevo, como é exemplo a matéria dos poderes presidenciais, sempre visando disfarçar a chusma de erros em que Passos Coelho caiu quando se deslumbrou com os primeiros indicadores favoráveis.
Trata-se de um clamoroso erro que vai onerar politicamente o novel líder do PSD, a não ser que, num momento de lucidez, entenda que a revisão constitucional deve aguardar o seu tempo próprio, o mesmo é dizer, nunca antes das eleições presidenciais.
(Publicado no "Jornal de Leiria" ,de 12 de Agosto de 2010 )
Osvaldo Castro
7 comentários:
Caro Amigo Osvaldo
Excelente aritgo...
Bergson declarou que a ideia do "nada" foi muitas vezes o motor invisível da especulação.
Ora, verdade seja dita, Sócrates reagiu sempre muito bem e com coragem pessoal e política a toda a onda negativa que fizeram abater sobre ele...provando ser um homem com existência e substância capazes de ultrapassar aquilo que se tornaria possível precisamente por ter transcendido o "nada" e sem deixar de exercer as funções de "tocar o país para a frente" face aos problemas difíceis que enfrentamos.
Erros...todos cometemos e com eles aprendemos...
Um Abraço Amigo e Solidário
Ana Brito
Cara Ana Brito,
Pois,a ideia do "nada" do Bergson capaz de orquestrar a especulação...
É Isso mesmo...mas Sócrates teve peito para reagir às frèchadas...É um bom exemplo para muitos que se julgam lutadores e que atiram a toalha ao chão à primeira injúria ou às incipientes desditas.
Creio que o exemplo de resistência deve ser acolhido por muitos dos hesitantes...que prognosticaram "O fim de ciclo".
Não, minha Cara Amiga, não me parece...
Um abraço pelas S/ palavras,
OC
Caro Osvaldo Castro,
... por razões substantivas é naturalmente inevitável o link que irei fazer no próximo Leituras Cruzadas :)
Obrigado pela excelência da análise sistémica.
Abraço amigo.
Cara Ana Paula,
Muito lhe agradeço a hohra do link e de igual modo as benévolas refer~encias que faz ao texto.
Como imagina, por razões deontológicas e políticas houve matérias sobre as quais só me pronunciei no local próprio,no caso Da Comissão de Inquérito,por exemplo.
E no Freeport porque acho que está agora superada uma fase,a de Inquérito, e que não estão constituídos arguidos membros do governo ou do aparelho político-administrativo, o que me liberta do dever de contenção que as funções que exerço me impôem.
Obrigado pela atenção com que segue "A Carta a Garcia".
Abraço Amigo,
OC
Caro Osvaldo Castro,
Ora aqui está uma análise enxuta, sem ser sectária, equilibrada e, sobretudo, rigorosa.
Acompanhei, quanto pude, os trabalhos da Comissão. Sei, por isso, da excelência do trabalho desenvolvido pelos deputaos socialistas...todos eles.
Mas sei também do trabalho que, o caro amigo, desenvolveu em sede de vice-presidência da dita Comissão, com rigor e isenção democráticas e institucionais.
Sei que já o fez, na nobre sede da Democracia, que é a Assembleia da República, mas nunca será demais enfatizar o DISCURSO com que o deputado Mota Amaral brindou o País, no encerramento dos trabalhos da CPI, honrando assim a melhor tradição "liberal" (que agora temos de aspar, para que não se confunda com a outra deriva...)dos sociais-democratas.
Como me parece óbvio, farei link deste seu magnifico artigo para o meu blog.
Abraço,
José Albergaria
Desapossados
1
Após a apresentação do projecto de governo liberal de Passos Coelho sob a forma de revisão constitucional, perpassa em grande parte do PSD uma subterrânea perplexidade.
Este partido é constituído por uma parte significativa dos votantes portugueses e ainda possui um número expressivo de militantes. Muitos deles, os mais velhos e mais numerosos, à volta da imagem construída, mal ou bem, pela governação cavaquista. Imagem essa cujos contornos encaixam na defesa do chamado Estado Social: Leonor Beleza na Saúde, Bagão Félix na Segurança Social (embora este mais ligado ao CDS e independente), Roberto Carneiro na Educação e outros.
2
Os mais novos, muito pouco numerosos, à volta de uma imagem «liberal» que agora, incompreensivelmente, se apresenta como moderna ou, quem sabe, pós-moderna (incompreensivelmente, pois estamos no meio da mais devoradora crise saída das cloacas de Wall Street e provocada pela «esmerada» aplicação dessas teorias).
O sentimento surdo e dominante que começa a grassar é de não pertença por parte do primeiro grupo. Sentem-se esbulhados, desapossados, e, se este sentimento ganhar líder, restam duas hipóteses a Passos Coelho: ir criar um partido à direita do CDS, ou passar pelo calvário habitual. Este poderá tornar-se mais evidente se a queda nas intenções de voto se acentuar.
A ver vamos.
Desapossados.
José Albergaria,
Muito obrigado pelo Link, pelas palavras amáveis que me dirigiu e pela fotografia que escolheu, que, como imagina, para mim e não só, representa um momento relevante na Casa da Democracia...
Abraço,
OC
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