O líder do PSD que foi entrando com passinhos de lã no seu regresso à vida política e que chegou mesmo a disfarçar-se de pessoa de bom senso e a afeiçoar algumas medidas no bom estilo de homem de estado, está agora a perder a traquitana e, de repente, talvez enfastiado ou embevecido com as recentes sondagens, Passos Coelho não resistiu e deixou-se escorregar pela volúpia do poder e cedeu ao palavreado desmedido da ameaça/chantagem. É o caso flagrante da prosápia com que hoje, no encerramento das Jornadas Parlamentares do PSD, ameaçou não aprovar o futuro Orçamento para 2011, se este incluir alterações em matéria de benefícios fiscais nas áreas da educação e da saúde, tudo matérias que Passos Coelho acordou com Sócrates a propósito do PEC.
Ameaça ou chantagem política que é no mínimo incoerente com as atitudes assumidas pelo líder do PSD no OE para o ano vigente. Isto é, não se pode ser “homem de estado” quando as sondagens estão em baixo e deixar de o ser quando as previsões eleitorais são favoráveis, sob pena de se poder acoimar os intérpretes políticos de tal jaez do mais descabelado oportunismo político.
Porém, no caso, nada que se estranhe, especialmente os que sabem e recordam que Passos Coelho é apenas um produto da JSD a que um tal Ângelo Correia deu a mão nas suas empresas, para o fazer passar por um dirigente oriundo da sociedade civil…
Passos Coelho, ao fim de poucos meses de liderança vem, afinal, confirmar o que dele sempre disseram Marcelo Rebelo de Sousa, António Capucho, Manuela Ferreira Leite, ou Pacheco Pereira, entre vários outros, agora emudecidos com o peso dos indicadores de opinião conhecidos. Mas que todos, e mais alguns, sempre asseveraram que o novel líder do principal partido da oposição era, tão só, forte no controle do aparelho autárquico social-democrata e no aparelho partidário, isso é uma verdade indiscutível, e acrescentavam muito deles, que Passos Coelho sofria de fartas lacunas de preparação e de formação política e económica. Coisa que, aliás, começou desde logo por ser patente quando, no rescaldo do Congresso, o novel líder ousou por dar um peso substantivo a uma revisão constitucional de que nem sequer tinha projecto, como, aliás, continua a não ter, e apenas balbuciava alterações de fundo social que sempre poriam em causa os fundamentos do estado social que a Constituição da República Portuguesa consagra há muitos anos. Para não dizer que Passos Coelho finge, em matéria de revisão constitucional, que não carece dos votos do Partido Socialista…
Ora para rever, seja que matéria seja, em sede de revisão constitucional, são sempre necessários os votos de 2/3 dos deputados, o que sempre implica o acordo dos dois maiores partidos do actual espectro partidário. Ou seja, é pura estultícia dizer ou pensar que Passos Coelho consegue fazer recuar ou mesmo destruir o estado social, como promete, contra o voto do PS, que seguramente lho negará.
É bem verdade que as recentes declarações de Passo Coelho, no encerramento das Jornadas Parlamentares do PSD, mais não são que a radicalização do discurso ultra liberal, em matéria económica e social, o mesmo é dizer, no que concerne ao Estado Social, por parte do líder do PSD.
É de crer que Passos Coelho se esteja a equivocar em sede de oportunidade política para dar vazão à sua sede de poder. Há ambições que são incompagináveis com a defesa dos interesses dos portugueses e da nação, especialmente quando são susceptíveis de fazer recrudescer a instabilidade política de que o país e os portugueses deviam estar a salvo em momento tão conturbado internacionalmente.
Se Passos Coelho fosse um político avisado, logo vislumbraria que só subiu nas sondagens por ter, inicialmente, revelado paciência e sentido de estado, mesmo que fingidos. No momento em que inverte essa linha de abordagem dos problemas do país e opta pelo discurso da propaganda e da ameaça, cedo verificará que também as previsões eleitorais poderão escorregar no sentido descendente, tal como sucedeu aos seus antecessores.
A pressa da demarcação alternativa por parte de Passos Coelho é um erro táctico por parte do PSD, mas tem uma virtude, deixa claro ao país a aos sectores do PS que apostavam no Bloco Central que não se pode contar com os social-democratas para qualquer fórmula governativa, mesmo que só de incidência parlamentar.
Ou seja, o governo Sócrates e a maioria relativa parlamentar que politicamente o sustenta, esclarecidas que ficam quaisquer impossibilidades de governo de bloco central e qualquer possibilidade de governo à esquerda, pela consabida resistência irresponsável do BE e do PCP, só tem que continuar a assumir, com dignidade e sentido de estado, a condução dos destinos do país.
Terá de o fazer através do actual governo de maioria relativa, o que sempre implicará a necessidade de acordos pontuais no âmbito parlamentar, ora à esquerda ora à direita, desse modo logrando superar as dificuldades impostas pela crise financeira e económica internacional e os seus reflexos nacionais, visando atingir os desígnios de abaixamento e consolidação do défice e dos níveis de endividamento externo.
Obviamente, para tal, o governo Sócrates terá que apelar ao sentido patriótico e à compreensão dos portugueses para os sacrifícios que estão por diante, explicando e tornando transparentes todas as medidas que tiver que tomar. Só desse modo o governo pode contribuir para salvar Portugal das ameaças internacionais que pesam sobre o país e assim restituir a indispensável confiança aos portugueses.
Osvaldo Castro
(publicado no Jornal de Leiria de 15 de Julho de 2010)
8 comentários:
Caro Amigo Osvaldo
De facto Passos Coelho - é razão para dizermos - que saliva mais que o cão de Pavlov.
Veremos o que lhe acontece e como reage no próximo toque da "campainha".
Um Abraço Amigo
Ana Brito
Cara Ana Brito,
O que mais espanta é que Passos Coelho enverede por uma política de zig-zag em função de meros prognósticos eleitorais...
Coisa que nem o polvo Paul se atreveu a fazer...esse ao menos foi coerente, foi dando vitórias à Alemanha...até que resolveu mudar para a "fúria espanhola"...mas sempre sem se candidaditar a vencedor da Taça...
Abraço Amigo,
Lider da oposição também está sujeito ao chamado «estado de graça» ? Se sim, já passou.
A partir de agora Passos Coelho será sujeito a pelo menos um ano de desgaste, e, então se verá, o custo para o PSD do abandono da matriz social-democrata e se este «líder» não é a mais perigosa aposta para o partido e para o país.
Quem o treinaria? Ângelo Correia? Pavlov ( em anterior encarnação) ?
Tudo de bom.
Caro Bettencourt de Lima,
Creio que o lider das oposições, por culpa própria, não chegou a ter "o tal ano de estado de graça"...Na verdade, mercê da inconsistência e impreparação, tergiversou e tripudiou sobre os caminhos anunciados.
Creio que pode ocorrer o que prenuncia...pode ser uma muito perigosa aposta do PSD.
Cá estaremos para o confronto democrático.
Volte sempre,
Obrigado,
Osvaldo Castro
Cara São,
Boa pergunta...creio que Passos Coelho não consegue libertar-se da poderosa influência de Ângelo Correia...o que pode não ser bom para ele...a não ser que esteja a guardar de forma reflectida os seus lugares na vida das empresas...???
Volte sempre,
Obrigado
Osvaldo Castro
Jovens janízaros
Os jovens janízaros que tomaram conta do PSD estão prestes a alterar a matriz social-democrata do partido e a criar uma formação que nada tem a ver com a origem. Pois bem, para além da confusão que se está a instalar nas bases do partido, constituído basicamente por pessoas que ao longo dos anos se habituou a ver o partido lutar pela melhoria das suas condições de vida, nomeadamente na saúde, na escola e nas reformas, vê agora o partido a ser elogiado pelos patrões,
que vêem no horizonte a possibilidade de despedir sem limite nem escrúpulo.
Não sei como se pode ser tão politicamente néscio em tão pouco tempo !
Meu Caro Bettencourt de Lima,
Não ponho nem tiro qualquer palavra. Assino por baixo tudo o que escreveu no Seu Comentário.
Obrigado,Volte sempre.
Cumprimentos,
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