quarta-feira, 20 de outubro de 2010

À consideração de Passos Coelho, há tabus que ficam caríssimos ao país

Escrevo esta crónica na 3ª feira em que os órgãos dirigentes do PSD, à vez, órgão por órgão, se preparam para encontrar uma decisão sobre a posição a tomar, desde logo, na votação na generalidade do Orçamento de Estado, a ter lugar no próximo dia 29 de Outubro.
Desde princípios de Setembro, que o líder do PSD optou por um estilo de flagelação de todas e quaisquer propostas do governo em matéria de OE, chegando ao ponto da máxima descortesia, ao recusar discutir fosse o que fosse em matéria de OE para 2011.
Foi precisamente a partir de então, e mercê da dúvida que Passos Coelho instilou nos observadores financeiros, ao sugerir a não viabilização do Orçamento, que ao ataque especulativo dos mercados e das agências de “rating” se veio a somar um descabelado aumento dos juros da dívida portuguesa.
Que ninguém tenha dúvidas, Passos Coelho e o seu “inner circle” têm inapagáveis responsabilidades nesta matéria.
Aliás, bastou que nas últimas 48 horas se tivesse acentuado a ideia de que Passos Coelho não podia fugir à viabilização do Orçamento, para que a dívida pública portuguesa, a dez anos, logo tivesse caído mais de 23,2 pontos-base, baixando para 5,508%, o valor mais baixo desde 2 de Setembro.
E mais, além do risco da dívida pública portuguesa estar a aliviar sucessivamente, nestes dias mais recentes, também os indicadores da Bolsa têm reagido favoravelmente, em contraciclo com a demais Europa, à ofensiva desencadeada pelo aumento dos juros por parte da China, o que está a provocar sérios problemas ao euro e ao valor do crude e correlativamente à generalidade do mercado bolsista,
Ora, no caso português, a Bolsa tem subido nos últimos 3 dias, de forma consistente, o que só se poderá compreender como resultante de se estar a evidenciar a provável viabilização do Orçamento em Portugal, ou seja por mero efeito psicológico.
Porque, verdade se diga, sem embargo de desde há muito a generalidade dos comentadores ter entendido que Passos Coelho enveredou pelo mero “bluff”, atenta a quantidade e qualidade dos notáveis do PSD que, alto e bom som, têm caracterizado como irresponsável e anti-patriótica qualquer atitude de rejeição do OE, como, aliás, de forma lapidar, o classificou, hoje, Paulo Rangel, em Estrasburgo.
Ou seja, nas palavras do principal adversário interno de Passos Coelho, qualquer “chumbo” do Orçamento ”abriria portas a um ataque à dívida soberana” e ao inevitável risco de “derrocada financeira e económica do espaço português e até do alastramento dessa situação à Zona Euro, o que deve ser evitado a todo o custo”.
Mas as palavras de Rangel poderiam bem ser pronunciadas, e são-no, à boca pequena ou abertamente, nos corredores da Assembleia e nos “media” por Manuela Ferreira Leite, António Capucho, Rebelo de Sousa, Matos Correia, António Capucho e até pelo inefável Ângelo Correia, auto-proclamado inspirador político do novel líder do PSD, entre muitos outros.
Reconheça-se, abrir uma crise política em cima de uma crise orçamental, no nosso país, neste estado de coisas, só releva da irresponsabilidade política e da falta de sentido de estado.
Os senhores Olli Rehn, Comissário dos Assuntos Económicos e Financeiros da União e Jean Claude-Juncker, presidente do Eurogrupo, acabam de o dizer, de forma muito óbvia, há poucas horas. O mesmo é dizer, ninguém perdoará a Portugal que num momento de crise internacional não assuma as responsabilidades a que está adstrito.
Sublinhe-se, não perdoarão os mercados que elevarão, de imediato, os juros do endividamento externo, absolutamente necessário para o prosseguimento da economia nacional, se é que o continuarão a fazer, e não perdoarão igualmente os decisores políticos da União Europeia que, num ápice, abrirão processos contra o estado português.
Passos Coelho, admito, não quererá arrostar com tamanha catástrofe, portanto só pode acabar, hoje mesmo, com o tabu, que nos tem custado demasiado caro, clarificando, desde já, o sentido da votação que viabilize o OE, na generalidade, e, depois, sentar-se à mesa das negociações para discutir o OE na especialidade.
Só tais atitudes poderão congraçar o líder do PSD com o sentido de estado e com a defesa dos valores essenciais do país.
(publicado também no "Jornal de Leiria" de 21 de Outubro de 2010)

7 comentários:

MFerrer disse...

Um post à sua altura.
Uma necessária e oportuna avaliação da situação.
O PS na minha modesta opinião não deve ceder a qualquer das imposições de última hora, e deve manter a sua proposta de OE que é equilibrada e defende o investimento público, controla o desemprego e permite alguma redução do consumo e das importações de luxo.
Até podia ter ido mais longe nestas últimas. Ninguém se escandalizaria se o IVA de bens de luxo fosse 30 ou 33%...
Mas acabo de fazer a merecida citação e cópia do seu post.
Abraço!

Ana Brito disse...

Caro Amigo Osvaldo
Obrigada por este texto tão claro e elucidativo. Na sequência de comentários anteriores só posso reforçar que sempre estive convencida de que Passos Coelho não chumbaria o orçamento, apesar do comportamento que vem assumindo e que em nada abona o seu suposto bom-senso como líder partidário.
Grande Abraço com Amizade :)
Ana Brito

Ana Paula Fitas disse...

Caro Osvaldo Castro,
Fiz link... obrigado!
Um grande abraço amigo.

Carta a Garcia disse...

Caro MFerrer,

Muito grato pelas S/ palavras e pela referência que efectuou que é sempre uma honra.
Desculpe tb o atraso na resposta!
Abraço,
OC

Carta a Garcia disse...

Cara Ana Brito,

Muito obrigado pelas S/ amáveis palavras e desculpe o atraso com que respondo`aos S/ Comentários.
Como provavelmente sabe, integro,mais uma vez, a Comissão de Revisão Constitucional no âmbito do PS,do GPPS e na Comissão Eventual na AR...portanto os fins de semana têm sido muito duros...as semanas, naturalmente já o eram...
Abraço Amigo,
OC

Carta a Garcia disse...

Cara Ana Paula,

Obrigado pela S/ reiterada amabilidade e pelo modo atentocomo segue este blogue.
Abraço Amigo,
OC

Anónimo disse...

Subscrevo o seu texto. A direita quer governar,mas com o FMI a tomar a rédia da governação,para com falta de vergonha dizerem aos portugueses que eles não têm culpa... Só que as contas sairam furadas,primeiro com os portugueses a dizer que queriam um acordo,segundo as pressões vindas de dentro do PSD, e de Belem. Este Banho Maria,que a direita preparou estratégicamente,touxe como se percebeu, enormes custos para Portugal.