quarta-feira, 21 de julho de 2010

Constituição: Anteprojeto de revisão do PSD é "precipitado, contraditório" e contém "opções pouco claras" - Pedro Santana Lopes

Lisboa, 21 jul (Lusa)
O antigo líder do PSD Pedro Santana Lopes considerou hoje o anteprojeto social democrata de revisão constitucional “precipitado e contraditório”, considerando que preconiza “opções pouco claras”.
Em declarações à agência Lusa, o ex-primeiro ministro defendeu mesmo que o projeto constitui “um presente envenenado” para Cavaco Silva, a quem o PSD já declarou apoio antecipado no caso de uma recandidatura a Belém.
“Acho que é um projeto precipitado, contraditório e, depois, na parte social com opções pouco claras, para não dizer mais”, disse.
Ressalvando que apenas conhece do projeto “o que tem sido noticiado”, Pedro Santana Lopes considerou-o desde logo “contraditório em matéria de sistema político”.
“Eu não tenho nada a opor a uma figura como a moção de censura construtiva, pode gerar estabilidade na subsistência dos governos, mas é contraditório com o poder que se dá ao Presidente de demitir governos. Isso para mim é aberrante, seria um regresso aos tempos do MFA [Movimento das Forças Armadas]. Não existe em mais nenhum sistema de governo no mundo”, declarou.
O antigo governante disse ainda estranhar as alterações propostas no domínio laboral.
“Substituir justa causa por razão atendível no despedimento, quer dizer, ou se tira a razão atendível ou se mantém a justa causa. Há conquistas dos cidadãos nas quais um Estado de Direito é complicado tocar”, comentou.
“Sinceramente não compreendo as partes que conheço do projeto, não compreendo o alcance político e penso até que foi desnecessário. O PSD tem estado numa quota muito ascendente nas sondagens, não percebo a razão de ser de algumas das opções que aqui são apresentadas”, referiu.
Pedro Santana Lopes – que defendeu a atualidade das opções inscritas no projeto de revisão constitucional em que participou no final da década de 1970, a pedido de Francisco Sá Carneiro - questionou ainda a oportunidade do processo à luz do calendário eleitoral.
“Até por uma questão de sensatez e inteligência, em véspera de eleições presidenciais lançar um projeto que supostamente pretende reforçar os poderes do Presidente da República acho que não é bom para o professor Cavaco Silva, a candidatura que o PSD diz apoiar. É um presente envenenado para o próprio professor Cavaco Silva. As intenções não batem certo com os atos, há uma contradição quase total entre aquilo que se proclama e aquilo que aparece concretizado”, considerou.
O último primeiro ministro social democrata questionou ainda o momento em que foram divulgadas as linhas gerais da proposta social democrata.
“Quero acreditar que as intenções são boas, mas não consigo descortiná-las. A revisão constitucional é importante, não digo que não seja, mas acho que se ainda vai ser apreciada pelos órgãos políticos não devia ter sido posta cá fora como foi, suscitando todo este debate. Se algumas medidas são suscetíveis de se voltar atrás em relação a elas, o efeito negativo que já geraram era escusado”, declarou.
E resumiu: “Quer no procedimento, quer nos objetivos, quer até no momento, não considero o mais adequado. Se tivesse sido logo a seguir ao Congresso ainda era distante das eleições presidenciais. Mas logo na altura quando ouvi, confesso que me pareceu pouco avisado porque as eleições presidenciais não tardavam aí. Na altura o doutor Passos Coelho disse que não queria mexer no sistema de governo. Talvez tivesse sido melhor. Agora, para mexer no sistema de governo tinha sido mais prudente depois das presidenciais”.
Ausente do Conselho Nacional de hoje, Pedro Santana Lopes disse esperar que nos órgãos do partido possa ser “corrigida esta precipitação”.

PGF/Lusa

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***

7 comentários:

Ana Brito disse...

Caro Amigo Osvaldo
A reflexão surge quando uma aparência se torna como que alienada da sua própria imediatez.

Se Pedro fuma, Pedro tosse
Pedro tosse
Pedro fuma

até criar uma nova experiência...
Haverá outras intenções na posição de Santana Lopes?

Um Abraço Amigo
Ana Brito

Rogério G.V. Pereira disse...

Para combater o PSD
é necessário dar voz ao Santana?
Porquê?
Com tal protagonismo conta ele! A Lusa faz-lhe a vontade!
Não sei para quê...

Abraço Amigo

Carta a Garcia disse...

Caro Rogério Pereira,

Eu entendo isso muito bem, mas às vezes, por razões tácticas, os argumentos dos nossos adversários adquirem mais força e expressão que os nossos, quando atacam o coração dos seus correlegionários...PSL fez isso ao Passos Coelho, como, aliás, o Jardim, o Capucho, e vários outros...
Portanto, vamos lá a não ter preconceitos...
Abraço,

Carta a Garcia disse...

Cara Ana Brito,

O Seu Comentário é cheio de graça e muito acutilante...
Mas creio que Santana Lopes diz o que pensa...Viu um momento adequado para tirar o tapete ao Passos Coelho que estava a gozar "um largo estado de graça"...É bom que que se quebre a unanimidade à volta de um lider que apresentou o pior Anteprojecto de revisão constitucional que se podia esperar...!
Abraço Amigo,

Bettencourt de Lima disse...

1 - Assalto, legitimidade e caudilhos.

O PSD de Sá carneiro, Mota Amaral , Cavaco Silva e milhares de militantes foi, e momentaneamente ainda é, de matriz social-democrata, como agora se convencionou dizer. Foi, envolto nesta matriz, que este partido cresceu e se tornou alternativa de governo em Portugal. Assim foi e ainda é. Esta matriz está configurada nos respectivos estatutos. Qualquer militante que se proponha dirigir este grande partido deve, e está obrigado, a se conformar com esta realidade.

2-
Já sofreu fortes ataques no sentido de mudar a raiz social-democrata, mas nunca tão intensos como agora, dirigidos por um grupo que se situa á direita do CDS, e, pretende tomar por dentro este grande partido e deslocá-lo para a direita liberal.

Para isso terá de mudar os estatutos, submeter a respectiva aprovação aos militantes e denominar o partido de outra forma, por exemplo, porque não, PLD - Partido Democrata Liberal.

Se isto acontecer será legitimo, não será é a mesma coisa.

Carta a Garcia disse...

Caro Bettencourt de Lima,

Completamente de acordo...todos os partidos podem mudar de orientação...e o PSD também. Mas,como diz, a partir de então deixam de ser amesma "coisa", deixam de ser o mesmo...
Nalguns casos, os seus apoiantes dão a resposta, abandonando-os...
Cumprimentos,
OC

Bettencourt de Lima disse...

Jovens janízaros ( da Escola de Chicago )


Os jovens janízaros que tomaram conta do PSD estão prestes a alterar a matriz social-democrata do partido e a criar uma formação que nada tem que ver com a origem. Pois bem, para além da confusão que se está a instalar nas bases do partido, constituído basicamente por pessoas que ao longo dos anos se habituaram a ver o partido lutar pela melhoria das suas condições de vida, nomeadamente na saúde, na escola e nas reformas, vê-se agora o partido a ser elogiado pelos patrões, que enxergam no horizonte a possibilidade de despedir sem limite nem escrúpulo.
Não sei como se pode ser politicamente tão néscio em tão pouco tempo!
Ps. Para além das presumíveis jogadas maquiavélicas ou submissão a interesses instalados, as eleições ganham-se com votos e os eleitores não devem estar disponíveis para liquidar o chamado Estado Social.

Bettencourt de Lima