sábado, 17 de abril de 2010

A revolta estudantil de 17 de Abril, em Coimbra, já lá vão 41 anos

Em 17 de Abril de 1969,faz hoje 41 anos, os estudantes de Coimbra desencadearam uma luta académica que se prolongou até Novembro desse ano. "Luto"(eufemismo para greve) a aulas, posteriormente, a exames, com adesão de 86% dos estudantes,e encerramento da AAC pelo poder ditatorial da época.E muitos processos disciplinares e criminais contra os principais dirigentes e inúmeras prisões de jovens rapazes e raparigas... e, finalmente, incorporação compulsiva no exército(estávamos em plena guerra colonial) de 49 estudantes dos mais destacados.
Pela primeira vez no decurso do fascismo, o poder autoritário foi forçado a retroceder perante um movimento associativo estudantil.Caíu o Ministro da Educação(o inefável J. Hermano Saraiva), o Reitor e o Vice-Reitor da Universidade, e o governo da ditadura sentiu-se forçado a amnistiar e extinguir os processos desencadeados contra centenas de estudantes.
Na fotografia,o Vice-Presidente da Direcção-Geral da AAC,o subscritor deste "post", dava conta aos estudantes, da prisão, durante a madrugada de 17 de Abril, do Presidente da AAC,Alberto Martins, que ousara cumprir uma decisão estudantil, a de pedir para usar da palavra, em nome dos estudantes de Coimbra, perante o Chefe de Estado da ditadura, Américo Tomás...
Foi a confusão generalizada entre os altos dignitários do regime...
Aí começou o maior movimento de solidariedade e criatividade de jovens estudantes universitários, em Portugal...
Permitam-me recordar aqui a coragem de todos os estudantes de Coimbra que participaram nessa luta e não esquecer alguns dos principais dirigentes,além dos referenciados.Um abraço para a Fernanda Bernarda, Celso Cruzeiro, Matos Pereira, Gil Antunes, José Salvador, Rui Namorado,Strecht Ribeiro, Carlos Baptista, José Manuel Roupiço,Pio Abreu, Rui Pato,Décio Freitas,Luís Januário,Carlos Fraião,Isabel Pinto, Fernanda Campos,Guida Lucas, Filomena Delgado,Fátima Saraiva e os jovens Professores assistentes Avelãs Nunes, Correia Pinto, Vital Moreira e tantos outros que nunca esqueceremos.A nossa saudade sentida para os Profs. Orlando de Carvalho e Paulo Quintela, e também para António Portugal, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira,Barros Moura, João Amaral,Sardo, Clara Antunes, Manuela Seiça Neves , Garcia Neto e outros que partiram cedo demais.


Osvaldo Castro


(adaptado e reactualizado a partir de um post publicado, em 17 de Abril de 2008, no Praça Stephens)

21 comentários:

Diogo da Cruz Rodrigues disse...

camarada é pena que hoje em dia os estudantes e a própria AAC não tenham a força e a coragem de outros tempos..
Era bom juntar todos esses que fala de novo e poder assim dar o mérito e a verdadeira importância a si e aos seus camaradas de luta naquele Abril!!

Ana Paula Fitas disse...

Caro Osvaldo,
Obrigado pela memória tão necessária aos tempos que correm... perto da comemoração de mais um aniversário do 25 de Abril, o meu agradecimento vai hoje para todos os que travaram essa luta e que anteciparam os tempos marcando o calendário "sem medo, nem preguiça", como bem aqui fica ilustrado pelo comício em que muito gostaria de o ter ouvido :)
Receba, por tudo isto, o meu abraço amigo e fraterno.

Ana Brito disse...

Caro Amigo Osvaldo
Impossível deixar passar esta data: ainda ontem pensei nisto e claro que o Meu Amigo, sempre atento e pertinente, cá está com uma alusão bem forte e sentida e de homenagem a todos aqueles que lutaram para que as gerações mais novas pudessem vir a ser académicos em democracia.
No quadro do regime salazarista, na década de 1960, a Universidade de Coimbra, que também é minha, viveu as lutas estudantis que provocaram o desgaste do regime, mobilizaram os estudantes, a cidade, a opinião pública democrática e a oposição ao Estado Novo.
O contexto estudantil orientava a vida da cidade de Coimbra e animava a actividade cultural e associativa. De facto, o dia 17 de Abril de 1969, pelos seus ingredientes, foi crucial e a repressão policial fez-se sentir com prisões, expulsões da Universidade e recrutamento compulsivo para a guerra colonial.
Creio que o activismo foi um privilégio das minorias iluminadas e que a juventude universitária contribuiu muito, e bem, para fragilizar o Estado Novo de Salazar e Caetano. Este movimento adquiriu um significado político crucial no âmbito da consciencialização democrática de inúmeras gerações de estudantes e no seio das correntes oposicionistas da época.
Obrigada a todos vós, porque consegui ser estudante da UC em democracia.
Ao Meu Amigo, aquele abraço forte.
Ana Brito

Carta a Garcia disse...

Caro Diogo da Cuz Rodrigues,

Obrigado pelas palavras que dedica à geração a que tive a honra de pertencer.
Mas sempre lhe digo, a força da juventude, dos estudantes e da AAC, se concentrada em boas causas, é indomável...
E sim, os membros da geração da Crise de 1969 encontram-se com muita frequência, no dia 17 de Abril, com as jovens gerações de estudantes. Foi o caso do dia de hoje, a convite da Direcção da AAC. Eu, por motivo de força maior, não pude estar presente, mas sei de muitos colegas que lá estiveram, hoje, em Coimbra.
Abraço.

Carta a Garcia disse...

Cara Ana Paula Fitas,

A fotografia não se refere a um Comício, mas antes a uma Assembleia Magna, convocada durante a madrugada de 17/18 de Abril através de pequenos panfletos colocados debaixo das portas das casas dos estudantes... e boca a boca.
Teve lugar no cimo da escadaria dos Gerais.
Perante a movimentação estudantil, a Pide viu-se obrigada a libertar o presidente da AAC, Alberto Martins, que chegaria enquanto eu usava da palavra, mas que ainda não está na fotografia...
Obrigado pelas S/ palavras e pela S/ alegria solidária e fraterna,
Abraço Amigo,

Carta a Garcia disse...

Cara Ana Brito,

Que dizer perante as suas palavras? Apenas que sinto um grande orgulho em ter pertencido a uma geração que se empenhou em libertar a Universidade das baias que a encurralavam e em ter dado aquele pequeno incentivo que levou os jovens capitães de Abril a devolver a Portugal a "manhã inteira e limpa" de que fala Sophia.
Que bom que possa ter sido aluna em Coimbra em ambiente de Liberdade!Creia, em ditadura ser estudante em Coimbra e em Portugal implicava imensos perigos.
Abraço Amigo,

Ana Paula Fitas disse...

Caro Osvaldo,
Obrigado pelo esclarecimento que mais valoriza o momento aqui assinalado... e, naturalmente!, pelas suas palavras que muito me honram e mais alegria conferem à minha admiração solidária pela luta que anos mais tarde seria de todos nós.
Abraço amigo.

Rogério G.V. Pereira disse...

É bom saber que existe gente que não deixa que a memória se apague...

É bom saber que se passa essa memória aos dirigentes académicos de hoje...

Os tempos são outros, mas dar testemunho de que houve quem exercesse direitos cívicos num regime que os não permitia é mais que louvável!

Abraço fraterno

Carta a Garcia disse...

Cara Ana Paula Fitas,

O esclarecimento visou tão só desfrutar da oportunidade de acrescentar alguns elementos históricos a factos que, sendo geralmente conhecidos, carecem, por vezes, de mais e melhor detalhe para a sua efectiva compreensão.
Tenha presente que a maior parte dos leitores da blogosfera terão muito menos de 40 anos e já nasceram em democracia, felizmente...!
Você que é mulher de princípios e de lutas comprovadas, como se pode ver pelo acompanhamento de "A Nossa Candeia", seguramente que compreende a necessidade de passar este património aos cidadãos da S/ jovem idade e aos mais novos.
Abraço fraterno e solidário,
Volte sempre,

Carta a Garcia disse...

Caro Rogério Pereira,

Muito grato pelas S/ palavras.
Creio que esse é o dever dos que viveram de perto os acontecimentos.
Abraço Amigo,

Ana Paula Fitas disse...

Caro Osvaldo,
Acabei de fazer link deste post.
Obrigado.
Abraço.

Carta a Garcia disse...

Cara Ana Paula Fitas,

Mas que grande honra me confere em fazer link de "A Nossa Candeia" para este meu blogue.
Obrigado.

Cláudia disse...

Caro Osvaldo,

Obrigada pela partilha de memórias. Tendo nascido após a Revolução, procuro resgatar esse passado que não deve ser esquecido.

Um abraço.

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

Caríssimo Osvaldo Castro,

bem lembrada esta evocação da greve estudantil de 1969 que deve ser para nós inspirativa de uma cidadania participativa como nos diz Ana Paula Fitas no blogue "A Nossa Candeia". É necessária uma mobilização que conduza uma cidadania global que possa resolver os problemas que se avolumam a uma moral em declínio como foco no comentário do blogue d' "A Nossa Candeia" e no meu próprio blogue em vários dos posts.

Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

Carta a Garcia disse...

Clau,

Obrigado pelas S/ palavras e incito-o a manter essa postura de conhecer o passado para melhor enfrentar o presente.
Abraço,

Carta a Garcia disse...

Caro Nuno Sotto Mayor Ferrão,

Obrigado pelas S/ palavras, que partilho.
Vou adicionar o seu blogue ao meu blogroll.
Cumprimentos,

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

Caríssimo Osvaldo Castro,

agradeço a sua gentileza e irei juntar também o seu blogue na minha lista de "links" preferidos. Cá voltarei para ir tomando contacto com os seus "posts".

Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

Carta a Garcia disse...

Caro Professor Ferrão,

Com todo gosto já adicionei o S/ blogue ao meu blogroll. Vou segui-lo com a maior regularidade, pese embora o intenso trabalho em que ando envolvido neste momento...
Cumprimentos,

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

Caríssimo amigo Osvaldo Castro,

Fiz uma hiperligação ao seu blogue destacando este texto. Espero que lhe agrade.

Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

Carta a Garcia disse...

Caro Nuno Sotto Mayor Ferrão,

Obrigado, já comentei na Caixa de Comentários do "Crónicas do Professor Ferrão".
Abraço. Reitero agradecimentos.
OC

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

Caríssimo Osvaldo Castro,

merecem sempre a minha melhor atenção as diversas lutas cívicas e políticas, do passado e do presente (lidos com os olhos do estudioso e do cidadão), em prol da liberdade e dos direitos humanos rumo a sociedades mais felizes em que os indíviduos se possam desenvolver plenamente. Congratulo-me e presto tributo à sua geração que nos deu esse magnífico exemplo de envolvimento cívico em favor de causas nobres e ideais generosos que tanta falta fazem, nos dias que correm, e nos devem servir de inspiração à escala hoje de uma cidadania global para a qual nos alerta no "post" citado do 'Cortex Frontal' o Professor José Medeiros Ferreira.

Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt