segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Passos Coelho promete ajoelhar perante os interesses das corporações

O líder do maior partido da oposição, por inexperiência ou nervoso miudinho, é useiro e vezeiro em dizer disparates, quer debaixo da pressão dos holofotes ou mesmo no remanso das entrevistas de jornalistas amigas. Desta vez foi ao Diário Económico, na passada semana.
Face a perguntas, um tanto simplórias, Passos Coelho não soube dizer melhor que é preciso “criar condições para que as reformas se façam. Se não, cairemos num maniqueísmo de achar que o Estado tem de fazer reformas contra as corporações, contra os médicos, os polícias, os professores…É um absurdo, ninguém muda a sociedade contra a sociedade!”.Tal resposta vale por dizer, preto no branco, que o líder do PSD e eventual candidato a primeiro-ministro, se lá chegasse, faria apenas as reformas que os interesses corporativos das diversas profissões lho permitissem. A isto chama-se “pôr-se de cócoras” perante os interesses organizados das corporações mais poderosas e sempre em detrimento dos reais interesses do Estado e daqueles, que são milhões, que não dispõem de força organizada para impor o seu ponto de vista.
Numa democracia um pouco mais exigente, tal declaração, somada aos dislates que também enuncia sobre a justiça, entre outras pérolas, constituiria, desde logo, facto impeditivo e grave, bem susceptível de garantir o clamor envergonhado dos seus correligionários. O mesmo é dizer que Passos Coelho, a continuar por esta senda tortuosa de declarações asnáticas, bem que poderá contar com a dúvida, cada vez mais reiterada, sobre a sua viabilidade para a disputa eleitoral, por parte do seu “inner circle” e por parte do seu partido.
Considerar, como ele o sublinhou, que fazer “reformas contra as corporações é um absurdo” é não ter ainda entendido que o país já vai há mais de dez anos no século vinte e um e que se debate com a crise mais grave dos últimos oitenta anos.
O mesmo é dizer que a Passos Coelho sempre faltaria a coragem e a determinação que o actual primeiro-ministro tem posto na defesa e concretização da execução orçamental, e com os resultados de 2010 em linha com o exigível, o que surpreendeu muitos dos seus incrédulos detratores.
É também pela leviandade declaratória do líder do PSD que não se compreende como se podem compaginar as declarações já mencionadas com aquelas outras em que Passos Coelho vocifera pelo encerramento das empresas públicas que dão prejuízo, mesmo quando prestam serviços de natureza social inquestionável. Encerrar empresas, como as de transportes, por exemplo, com o cortejo de despedimentos que implicaria ou acabar com os passes sociais, só pode revelar o vezo de radicalismo liberal que se apossa do novel líder do PSD quando olvida o peso das corporações que diz não querer afrontar. Balelas, portanto!
E de igual modo se não congraçam as declarações mencionadas, com a fúria privatizadora que Passos Coelho frequentemente revela. Ou melhor, nesse caso, as corporações patronais sempre o acompanhariam, mas os interesses organizados dos Sindicatos, obviamente, que reagirão em defesa dos interesses dos seus associados, o que vale por dizer que Passos Coelho, no seu afã de não afrontamento, acompanha os interesses dos primeiros, ou cede às reivindicações dos trabalhadores? O líder do PSD pensou detida e detalhadamente nas verdadeiras consequências do que afirmou ao Económico, ou fez apenas um número de demagogia rasteira?
Creio poder asseverar-se que à semelhança da revisão constitucional, Passos Coelho deve pensar antes de disparar declarações incompagináveis com a sensatez e o grau de preparação de quem ambiciona ser primeiro-ministro. É que ninguém esquece que sob a sua liderança, o PSD apresentou e bate-se por uma agenda ultra-liberal em matéria de revisão constitucional, que põe em causa a garantia constitucional dos despedimentos com justa causa e o princípio geral de gratuitidade do Serviço Nacional de Saúde, para além de pretender pôr fim à missão do Estado de assegurar uma rede pública de educação.
Tudo coisas por demais gravosas e violentadoras dos princípios inscritos na Constituição e que por banda do Partido Socialista serão obviamente rejeitadas, especialmente por colocarem em questão a dignidade pessoal e a estabilidade social dos cidadãos mais desfavorecidos e desprotegidos do nosso país.
O que vale por dizer que, se Passos Coelho quer ajoelhar perante os interesses das corporações, particularmente num período exigente de crise global, tal só significa que não está preparado para enfrentar as complexidades e as exigências que a direção política do país impõem.
A prosseguir por tão tortuosos caminhos, Passos Coelho não dá as garantias suficientes para defender os reais interesses nacionais. É isso que os portugueses poderão ter de avaliar.


Osvaldo Castro

4 comentários:

Ana Brito disse...

Caro Amigo Osvaldo
Excelente texto, excelente análise, Meu Amigo...
Se, de facto, PPC quer ajoelhar perante os interesses das corporações, o melhor seria que não saísse da toca e deixasse que o país seja tocado para a frente com determinismo e sentido de responsabilidade e sem ter que perder tempo a lidar com obstáculos pueris.
Grande Abraço com Amizade :)
Ana Brito

Carta a Garcia disse...

Cara Ana Brito,

Obrigado pelas S/ palavras...DE facto, o Passos Coelho de cada vez que fala vai caindo na esparrela das palavras inapropriadas...Não será ingenuidade, mas antes nervoso miudinho...
Abraço Amigo
OC

Ana Paula Fitas disse...

Caro amigo Osvaldo Castro,
Fiz link de mais este seu excelente texto e aproveito para lhe agradecer o link que fez do meu post "Contra o Racismo, Cidadania Multicultural".
Um grande abraço.

Carta a Garcia disse...

Cara Ana Paula,

Eu é que agradeço a distinção.
Mais a mais quando imagino que deve ter andado a trabalhar e passear(?) por Paris. Nos últimos dias abria-se o seu blogue e sentia-se um forte e gentil odor a Paris...
Abraço Amigo,
OC