Há uma tese orçamentalista que preconiza a redução do défice e da dívida a todo o custo e que se consubstancia no empobrecimento dos portugueses como método salvífico.
O mesmo conceito que aponta o caminho da emigração, exportando professores desempregados e setores de classe média que se vêem a braços com a falta de salários, atraso nos pagamentos do que lhes é devido, ou tão simplesmente jovens em busca de primeiro emprego e/ou desempregados de idades intermédias que a recessão lançou para as malhas dos sem ocupação, sem subsídios sociais e sem perspetivas de emprego.
Tais teses e conceitos estão agora também ancorados na chamada “democratização económica”, chavão e conversa mole das linhas com que se vai urdindo a teia do triunfalismo demagógico de que os principais epígonos são o primeiro-ministro e o ministro das Finanças.
Factos indiscutíveis, e que têm de ser trazidos à espuma do caráter agressivo do governo Passos Coelho, são inelutavelmente os aumentos de impostos, os cortes nos salários e nas pensões, a supressão dos subsídios de férias e de Natal da generalidade dos trabalhadores da função pública e dos pensionistas para os anos 2012 e 2013,pelo menos. Mas também, o propósito de destruir o SNS e a generalidade do estado social. Vale por dizer, que os severos atentados contra os direitos dos trabalhadores traduzidos numa ofensiva de cunho ideológico que tanto lança pessoas válidas e capazes no desemprego, como atingem os principais vetores da concertação social e diminuem paulatinamente os direitos e prestações da segurança social, do mesmo modo que se vão aumentando os horários de trabalho.
E se a austeridade incidente sobre as pessoas, ao invés de cortes nos desperdícios e gorduras do Estado, se vai acentuar na saúde, como nas taxas moderadoras e na vida em geral, mercê do acréscimo das taxas do IVA, na redução muito significativa das deduções do IRS, no aumento dos encargos com a habitação, quer do lado de inquilinos quer de senhorios, por aumento das rendas, dos empréstimos e do IMI, o que tudo vai penalizar, também, a vida quotidiana nas despesas relativas à água, eletricidade e gás, entre outros.
Ou seja, tudo indica que Passos Coelho não percebeu que se deveria confinar às severas normas e ditames outorgados pelo Memorando de Entendimento com a Tróika em vez de partir à desfilada contra os mais pobres dos cidadãos portugueses, como se confirma por credíveis entidades internacionais.
Optando por “ir para além da troika”, Passos Coelho vazou austeridade no poço da austeridade, em vez de optar por conjugar os sacrifícios necessários com uma política de promoção e defesa dos meios e recursos nacionais.
Passos Coelho, descoroçoado e conformado com a crueza de uma derrota iminente, que muitos lhe prenunciam, não mostra ter a coragem de lançar medidas estribadas no crescimento económico sustentado e potenciadoras de um modelo de desenvolvimento que, assente na valorização dos recursos nacionais e na exportação de bens transacionáveis, possa enfrentar e conter o desemprego de 14% dos portugueses, como está previsto para o próximo ano nos mais fiáveis indicadores económicos.
Se não optar por abandonar as estreitas veredas da austeridade desacompanhada de medidas que visem o crescimento sustentado, Passos Coelho vai lançar Portugal no fosso do desemprego galopante e da miséria crescente.
Osvaldo Castro (publicado em, 5 de janeiro de 2012, no Jornal de Leiria)
Osvaldo Castro (publicado em, 5 de janeiro de 2012, no Jornal de Leiria)
2 comentários:
Carissimo, Osvaldo
Fiz link... deste e de outro post :))
Obrigado.
Um abraço.
Cara Ana Paula,
Agradeço a gentileza dos links...
Abraço com amizade...
OC
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