terça-feira, 1 de maio de 2012

"Arte poética", Mário Dionísio (1916-1993)


Arte poética

A poesia não está nas olheiras imorais de Ofélia
nem no jardim dos lilases.

A poesia está na vida,
nas artérias imensas cheias de gente em todos os sentidos,
nos ascensores constantes,
na bicha de automóveis rápidos de todos os feitios e de todas as cores,
nas máquinas da fábrica e nos operários da fábrica
e no fumo da fábrica.
A poesia está no grito do rapaz apregoando jornais,
no vaivém de milhões de pessoas conversando ou praguejando ou rindo.
Está no riso da loira da tabacaria,
vendendo um maço de tabaco e uma caixa de fósforos.
Está nos pulmões de aço cortando o espaço e o mar.
A poesia está na doca,
nos braços negros dos carregadores de carvão,
no beijo que se trocou no minuto entre o trabalho e o jantar
e só durou esse minuto.
A poesia está em tudo quanto vive, em todo o movimento,
nas rodas do comboio a caminho, a caminho, a caminho
de terras sempre mais longe,
nas mãos sem luvas que se estendem para seios sem véus,
na angústia da vida.

A poesia está na luta dos homens,
está nos olhos abertos para amanhã.

4 comentários:

folha seca disse...

Excelente escolha caro Osvaldo
Tocante!
Abraço
Rodrigo

Osvaldo Castro disse...

Abraço, Caro Rodrigo.
Trata-se, de facto de um poema muito tocante e motivador...!
Bom resto de 1ºde Maio, desde que não tenhas sido forçado a trabalhar como sucedeu em vastos setores da distribuição...O que lutei para os impedir...o que,aliás,fui conseguindo...Mas,agora, é uma ardilosa forma de espoliar os trabalhadores e os consumidores!
OC

folha seca disse...

Caro Osvaldo
Volto para comentar o teu comentário. De facto como sabes acompanhei o teu papel enquanto secretário de estado do Comércio. Mas isso foi no tempo em que os governantes estavam ao serviço do seu País e não dos de alguns "donos de Portugal" incluindo o capital estranjeiro que vai ficando com sectores fundamentais para a sobrevivência da nossa identidade.
Grande abraço
Rodrigo

Osvaldo Castro disse...

Caro Rodrigo,
Obrigado pela gentileza das tuas palavras...não fiz mais do que o meu dever e a minha consciência me ditaram...No tempo, há mais de 10 anos, tratava-se de defender os interesses do comércio de rua ou de proximidade, bem como os interesses legítimos dos produtores e fornecedores cujas margens de lucro estavam a ser alvo da cobiça e da ganância dos grandes senhores da distribuição...Foi por isso que fiz aprovar a lei que proíbe a venda com prejuízos...
Depois, liberalizaram os horários...e
tudo o que mais se sabe...
Abraço,
OC