sábado, 26 de março de 2011

Dívida: Portugal erra ao reduzir despesa pública com desemprego elevado - Paul Krugman


Lisboa, 25 mar (Lusa)

O economista norte-americano e Prémio Nobel da Economia Paul Krugman considerou hoje Portugal como um exemplo do erro de reduzir a despesa pública quando existe um desemprego elevado, em coluna de opinião publicada no New York Times.

Portugal é invocado, a par de Irlanda, Grécia e Reino Unido, a propósito do debate sobre a situação orçamental nos Estados Unidos.

Para o economista, “a estratégia correta é [criar] empregos agora, [reduzir] défices depois”.

Krugman entende que estão errados “os advogados da austeridade que preveem que os cortes da despesa trarão dividendos rápidos na forma de uma confiança crescente e que terão pouco, se algum, efeito adverso no crescimento e no emprego”.

Justifica a preferência pelo adiamento da redução do défice com o argumento de que “os aumentos dos impostos e os cortes na despesa pública deprimirão ainda mais as economias, agravando o desemprego”.

Acrescenta, a este propósito, que “cortar a despesa numa economia muito deprimida é muito auto-derrotista, até em termos puramente orçamentais”, uma vez que “qualquer poupança conseguida é parcialmente anulada com a redução das receitas, à medida que a economia diminui”.

O Prémio Nobel da Economia lamenta que a estratégia que recomenda tenha sido “abandonada perante riscos inexistentes e esperanças infundadas”.

Pormenoriza: “Dizem-nos que se não reduzirmos a despesa imediatamente, acabaremos como a Grécia, incapaz de se financiar sem ser com exorbitantes taxas de juro”.

“Se os investidores decidirem que somos uma república das bananas, cujos políticos não podem ou não querem encarar os problemas de longo prazo” será atingida a situação da Grécia, especifica.


“Deixarão de comprar a nossa dívida”, admite.

Krugman adianta que “um plano orçamental sério (…) trataria dos motores da despesa a longo prazo, acima de todos os custos com os cuidados de saúde, e quase de certeza que incluiria algum tipo de aumento de impostos”.

O Prémio Nobel considera que o debate sobre a política orçamental nos Estados Unidos “não está a ser sério” e que “toda a conversa é sobre cortes de despesa de curto prazo”.

Depois de descrever o clima político existente nos EUA como um em que os defensores dos cortes orçamentais “querem punir os desempregados”, Krugman prevê: “os contos de fadas sobre a confiança não nos salvarão das consequências dos nossos disparates”.

RN/Lusa

4 comentários:

Unknown disse...

Estou cansado de afirmar isto mesmo e sou um simples mortal que nunca publicou nada na imprensa.

O mal da nossa política é que não vão ao fundo da questão. Continuam a não criar trabalho, emprego....riqueza.

Não direi geração rasca mas políticos rascas, sem visão nem vontade de fazer o melhor ao seu país.

JMCPinto disse...

Meu Caro Osvaldo
É positivo que tenhas publicado este artigo. Nós, por cá, já todos já todos sabemos isto há muito tempo. Ou seja: há quase cem anos. E tem presente que quando Krugman deixa um espaço para a subida de impostos, ele está a referir-se impostos directos sobre o rendimento, sobre os altos rendimentos. E se quiser seguir à risca um dos seus modelos políticos mais estimados - New deal - estará mesmo a falar de impostos que podem ir até aos 90%. Noventa por cento, ouviste bem? Mas não será preciso ir tão longe, basta-nos ficar ai pelos 60% sobre os mexias e c.ª. E depois os bancos.
Mas como o PS se converteu ao neoliberalismo - e não foi só o PS, foi toda a social democracia europeia - , as mudanças, as grandes mudanças que o nosso tempo exige, vão fazer-se todas, quando se fizerem, à margem dods partidos socialistas.
Já agora também prestavas um valioso contributo se publicasses no teu blogue um dos últimos artigos do Soros, cujo endereço aqui vai http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=475581
Polémicas à parte, com a amizade de sempre, um grande abraço

Carta a Garcia disse...

Luís Coelho,

Faça-se ouvir, meu Caro...escreva na imprensa, nos blogues, sei lá...
mas por favor, não meta no mesmo saco todos os que se batem pelo seu País assumindo a política de forma activa...Os rascas, foram derrotados em 1974, os que sobram ou lhes seguem as pisadas, são residuais...!
Volte sempre!
Cumprimentos,

Carta a Garcia disse...

Meu Caro JMCorreia Pinto,

Claro que sempre procuro dar espaço a textos e autores de qualidade como Krugman...e lerei o Soros, claro...Tudo como forma de ajudar a que alguns entendam que temos de inflectir em questões essenciais em matéria de despesa pública, não cedendo a todo o pano aos que exigem a destruição do SNS, a entrega do serviço público de educação aos privados ou a paragem de obras essenciais ao desenvolvimento,quer por questões de princípio quer por imperativos de crescimento e de combate ao desemprego.
Creio que o PS, com dificuldades, é certo, tem procurado resistir e contrariar esses cantos de sereia.Mas, nem sempre o consegue, entalado como está entre os neo-liberais e os radicais de protesto, que às 6*s feiras se congregam para,entre outras, suspenderem a avaliação de desempenho dos professores...!
Agora,atento como és, bem sabes que o programa neo-liberal do PSD, consubstanciado no seu Projeto de revisão constitucional, foi combatido de cabo a rabo pelo PS, na melhor ilustração das diferenças entre o PS e o PSD.Este PS ainda não é um de entre iguais na social democracia europeia que se vai rendendo...!
Mas, claro, respeito, e muito, como sabes,as tuas opiniões que leio com muita atenção.
Abraço,
OC