Em mais uma das já famosas sextas-feiras negras, o PSD levou a reboque a demais oposição e suspendeu, inopinadamente, o processo de avaliação de professores. Algo recheado de violações à Constituição, designadamente por invasão das competências reservadas do Executivo, entre outras, e que, seguramente, não resistirá ao mais que provável escrutínio do PR ou do Tribunal Constitucional. Tal ocorreu na fase de ressaca, isto é, 48 horas depois da votação de rejeição do PEC, acto de inaudita leviandade e bem revelador da imaturidade e falta de sentido de estado por parte da direção do PSD, que, não obstante, também, no caso, levou pela arreata CDS, BE, PCP e PEV, assim dando azo à abertura de uma grave crise política centrada em cima de uma crise económica e financeira de consabida gravidade.
Enfim, admita-se, um conjunto de trapalhadas que em nada abonam o sentido de responsabilidade de que os atuais líderes do PSD se mostram cada vez mais carecidos. Daí que não espante a vasta confusão e as sucessivas contradições provocadas por recentes declarações de Passos Coelho, que sempre defendera a injustiça dos aumentos do IVA, atenta a natureza “cega” de tal imposto sobre o consumo, mas que agora, chegado de Bruxelas, já vislumbra como uma das possibilidades de obter receita. E tudo isto entremeado por muitas e variadas contradições entre Relvas, Carrapatoso, Capucho e um ignoto Moedas, sempre sobre as apreciações sobre a dívida, as agências de notação, as medidas programáticas de austeridade a aplicar, e sobre as quais o PSD continua a dizer tudo e o seu contrário.
Apenas por uma razão, não tem Programa nem adequada reflexão sobre a situação financeira portuguesa e o modo de a superar.
Ou antes, para além de uma mais que evidente “agenda escondida”, o Programa do PSD assenta nos eixos nucleares do seu Projeto de revisão constitucional, o mesmo é dizer, de forma linear, na destruição do SNS, do regime da segurança social, do sistema público de educação, a benefício dos privados e da intenção de abdicar do conceito de justa causa em matéria de despedimentos.
Ao que agora, por entre a ruidosa cacofonia dos já citados dirigentes do PSD e de mais alguns que não querem deixar passar a oportunidade de dar conta do tom néscio com que abordam os graves problemas do país, se vêm somando as encapotadas intenções de reduzir a despesa à custa do despedimento de funcionários públicos, ou da hipótese da supressão do 13º mês.
E a que tudo se somam, também, as deliberadas intenções de privatizar a RTP, seguramente a benefício do militante nº1 do PSD e proprietário da SIC, bem como a CGD e o vasto elenco de privatizações de empresas estratégicas na área dos transportes, num claro sinal de que este PSD afina claramente por uma estratégia neo-conservadora e liberal tendente à destruição do papel do estado como fator estratégico da regulação económica.
Tais são, desde já, as intenções declaradas de Passos Coelho e dos seus apaniguados. Outras e mais gravosas ainda virão, já que é o próprio líder do PSD que se vangloria de ter ordenado a rejeição do PEC por considerar que as medidas aí previstas “não eram suficientemente duras”…!
Em tudo o que vem de se referir, o que mais confrange é perceber como os partidos que se reclamam da esquerda, PCP e BE, têm continuado a dar a mão em ações concretas ao PSD. A suspensão da avaliação dos professores e a rejeição do PEC são apenas os últimos exemplos.Tais partidos optaram definitivamente pelo beco sem saída dos partidos de protesto e da queixa, ou já sentem que têm maturidade para entrar no palco sério da vida política? A não seguirem pela última das opções correm o risco da punição severa por parte dos que ainda os apoiam. Não é impunemente que se colabora, objetivamente, com Passos Coelho no derrube de um governo do partido socialista…
Osvaldo Castro
5 comentários:
Bom-dia, caro Osvaldo.
Depois deste texto é óbvio que será sobre ele que vai recair o link do Leituras Cruzadas de hoje :)
Obrigado.
Abraço.
Caro Osvaldo,
Fiz o justíssimo link e comentário.
Cumprimentos
Cara Ana Paula,
Obrigado pela referência que tenciona fazer...disponha sempre.
Abraço,
OC
Caro MFerrer,
Um abraço...e mto obrigado pela referência a este blogue que muito se honra com isso.
OC
Caro Amigo Osvaldo
Embora a braços com uma tarefa académica que me consome os dias, quero deixar a minha manifestação de solidariedade, lamentar a situação política a que se chegou e...já agora que PPC diga ao país quais são as alternativas que tem para a crise...e para o país...
Grande Abraço com Amizade :)
Ana Brito
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