Os crimes de Toulouse, tal como os de Oslo, invocam causas políticas. Procuram uma certa vitimização dos agressores e agitam um sentimento de revolta e vingança contra as injustiças – o sofrimento das crianças palestinianas ou a ameaça à identidade norueguesa. Os autores não se apresentam como o que são: assassinos sem justificação moral.
Estes criminosos apelam a lógicas disseminadas em grupos sociais, étnicos, políticos ou religiosos, procurando a sua compreensão. A dúvida que tais casos suscitam é saber onde acaba a racionalidade política extremista e começa a loucura. Não residirá a loucura na racionalidade extremista ou não utilizará essa racionalidade para se exprimir?
O filósofo alemão Karl Jaspers dizia que cada época "elege" condições psicológicas que exacerbam patologias. A Idade Média terá evidenciado uma relação entre o misticismo e a histeria e o Século XX revelaria uma relação entre a procura de potencialidades ocultas e a esquizofrenia. A doença mental desenvolveria, assim, condições psicológicas produzidas pela História.
Os fenómenos organizados ou as manifestações individuais de terrorismo revelam uma específica predileção pela destruição do outro a partir de um discurso moral, religioso ou político. Mas, para além das causas sociais, as condições psicocausais desse fenómeno não são obra original dos criminosos – "estão-aí", lançadas no discurso quotidiano como sementes.
As sementes do ódio assomam, transfiguradas de extremismo, nestes atentados. O rapaz de Toulouse era um francês de origem argelina, filho de pais separados, com dificuldades de inserção social. Seria um delinquente de bairro se o discurso extremista não lhe tivesse dado um quadro de valores, cobrindo a sua insignificância e a sua debilidade psicológica.
Na sociedade portuguesa, esse ódio à solta, não inteiramente controlado pelo discurso político, só pode ter força para desunir em face das dificuldades e perpassar por atos criminosos passionais de extrema violência, como uma espécie de terrorismo privado. Nos atos dos fundamentalistas, são elevadas à potência coletiva essas tendências do nosso tempo.
Nos atentados existe um padrão moralista que invoca a falta de valor do outro (o que implica a falta de valor do próprio). Mas se o discurso da Jihad conquista esse vazio é porque não tem havido alternativas. Dizem os cientistas que a antimatéria não destrói a matéria devido a uma vantagem que esta possui. É essa vantagem que se exige ao discurso da Democracia.
Por:Fernanda Palma, Professora Catedrática de Direito Penal,com a devida vénia.Publicado no "Correio da Manhã"
Estes criminosos apelam a lógicas disseminadas em grupos sociais, étnicos, políticos ou religiosos, procurando a sua compreensão. A dúvida que tais casos suscitam é saber onde acaba a racionalidade política extremista e começa a loucura. Não residirá a loucura na racionalidade extremista ou não utilizará essa racionalidade para se exprimir?
O filósofo alemão Karl Jaspers dizia que cada época "elege" condições psicológicas que exacerbam patologias. A Idade Média terá evidenciado uma relação entre o misticismo e a histeria e o Século XX revelaria uma relação entre a procura de potencialidades ocultas e a esquizofrenia. A doença mental desenvolveria, assim, condições psicológicas produzidas pela História.
Os fenómenos organizados ou as manifestações individuais de terrorismo revelam uma específica predileção pela destruição do outro a partir de um discurso moral, religioso ou político. Mas, para além das causas sociais, as condições psicocausais desse fenómeno não são obra original dos criminosos – "estão-aí", lançadas no discurso quotidiano como sementes.
As sementes do ódio assomam, transfiguradas de extremismo, nestes atentados. O rapaz de Toulouse era um francês de origem argelina, filho de pais separados, com dificuldades de inserção social. Seria um delinquente de bairro se o discurso extremista não lhe tivesse dado um quadro de valores, cobrindo a sua insignificância e a sua debilidade psicológica.
Na sociedade portuguesa, esse ódio à solta, não inteiramente controlado pelo discurso político, só pode ter força para desunir em face das dificuldades e perpassar por atos criminosos passionais de extrema violência, como uma espécie de terrorismo privado. Nos atos dos fundamentalistas, são elevadas à potência coletiva essas tendências do nosso tempo.
Nos atentados existe um padrão moralista que invoca a falta de valor do outro (o que implica a falta de valor do próprio). Mas se o discurso da Jihad conquista esse vazio é porque não tem havido alternativas. Dizem os cientistas que a antimatéria não destrói a matéria devido a uma vantagem que esta possui. É essa vantagem que se exige ao discurso da Democracia.
Por:Fernanda Palma, Professora Catedrática de Direito Penal,com a devida vénia.Publicado no "Correio da Manhã"
Sem comentários:
Enviar um comentário