Nós, os da crise de 62
Eram de frio as botas do poder,
dentes podres de um medo mergulhado
no simples respirar de cada dia.
Os sacerdotes negros do destino
eram sombras de inverno repetidas,
num abismo sem cor e sem limites.
Mas o vento da história regressou
e o cão foi arrancado do poder,
sem ter sequer a honra do vencido.
Nós fomos breve grão de liberdade,
ali tão rudemente semeado,
num gesto sem temor e sem amparo.
Abril foi então desembainhado
e a colheita nasceu em todos nós,
flor de audácia, gestos de ousadia.
Agora que os morcegos regressaram,
não esperem de nós que nos deitemos
numa cama de medo e de saudade.
Estamos ainda aqui de ideias limpas,
peregrinos que não perdem a memória,
viajantes no tempo que há de vir.
[Rui Namorado] Colhido aqui em "O Grande Zoo"
4 comentários:
Caro Osvaldo
Costumo visitar ocasionalmente o "Grande Zoo" mas de facto não tinha visto este post.
Excelente! Diz muito, no fundo diz-nos que não é ainda tempo de calçar as pantufas.
Abraço
Rodrigo
Nota: Tens visto os mails?
Caro Osvaldo:
Há alguns amigos preciosos. Tu és um deles.
Grande abraço.
Rui Namorado
Caro Rodrigo,
Trata-se de um excelente poema de um grande Poeta, o Rui Namorado...e leste-o com o sentido com que ele o escreveu...
Tenho lido os mails, mas penso que não vou poder aceder...só poderei responder na 6ªfeira...
Abraço,
OC
Caro Rui Namorado,
Um grande abraço pela tua Amizade e pelos teus Poemas...
OC
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