Pediste-me, Inês, meia dúzia de linhas sobre “o livro da minha vida”. O mais fácil, ou politicamente correcto, seria estrondear com um qualquer livro de autor português…que os há e de grande qualidade. Vem-me ao teclado e à memória o perfume de Margarida, esse símbolo de quinze gerações açorianas de “meninas belas, filhas umas das outras”, do “Mau tempo no canal”, do imperdível Vitorino Nemésio.
Porém, por entre a minha verdadeira perdição, o meu vício, pelos livros – coisa de adolescente que felizmente se mantém – é indiscutível que nunca esquecerei o Stendhal da “Cartuxa de Parma”e menos ainda as “Memórias de Adriano”, de Marguerite Yourcenar, esse poderoso encontro entre a escritora do século XX com um Imperador romano que viveu 19 séculos antes. É o domínio da ficção, através da carta-testamento ao jovem e futuro imperador, Marco Aurélio. É, com rigorosa fidelidade histórica, o entrecruzar da biografia de um homem com as nuvens anunciadas da decadência de Roma. É um quase monólogo sobre a (sua/nossa) vida, um olhar fundo por sobre a precariedade da existência humana e da inevitabilidade da morte…
Mas as histórias vividas, no dia 16 de Junho de 1904, pelo irlandês Leopold Bloom, nas ruas, bares e bordéis de Dublin, são, verdadeiramente, a reconstrução da odisseia de Ulysses da epopeia homérica.
Bloom sai de casa para tarefas tão comezinhas como comprar comida para a mulher, ir aos Correios levantar cartas da sua amante e para as suas funções de publicitário….e acaba por perder-se no dia e na noite de Dublin. O regresso de Bloom à sua Ítaca, a sua casa, após gloriosa bebedeira, escorraçado de mais um bar, culmina, tal como Ulysses, uma verdadeira peregrinação por tudo o que de perigos e prazeres foi criado por mãos e mentes humanas.
Pisando o pé para conhecer os caminhos, Joyce, através de Bloom, dá a conhecer culturas, filosofias, línguas, maneirismos, religiões, preces, magias e erotismos, sem esquecer as famas etílicas irlandesas.
Enfim, um livro enciclopédico, difícil, denso, a que o leitor tem de voltar inúmeras vezes. Um livro cuja edição esteve proibida na velha Inglaterra até 1936 e nos Estados Unidos até 1933, por ser considerado obsceno! E no entanto, os sábios da literatura incluem-no entre os 50 melhores livros de sempre. E não poucos atribuem ao livro de Joyce a verdadeira criação do discurso narrativo do romance moderno.
É o meu livro de cabeceira, apenas porque do engenho da sua trama narrativa, mas também das suas variadas complexidades, é obrigatório voltar a ele amiúde, até para o compreender melhor. Já agora, o tão mundialmente celebrado Bloomsday comemora-se no próximo 16 de Junho.
Osvaldo Castro(reeditado)
Porém, por entre a minha verdadeira perdição, o meu vício, pelos livros – coisa de adolescente que felizmente se mantém – é indiscutível que nunca esquecerei o Stendhal da “Cartuxa de Parma”e menos ainda as “Memórias de Adriano”, de Marguerite Yourcenar, esse poderoso encontro entre a escritora do século XX com um Imperador romano que viveu 19 séculos antes. É o domínio da ficção, através da carta-testamento ao jovem e futuro imperador, Marco Aurélio. É, com rigorosa fidelidade histórica, o entrecruzar da biografia de um homem com as nuvens anunciadas da decadência de Roma. É um quase monólogo sobre a (sua/nossa) vida, um olhar fundo por sobre a precariedade da existência humana e da inevitabilidade da morte…
Mas as histórias vividas, no dia 16 de Junho de 1904, pelo irlandês Leopold Bloom, nas ruas, bares e bordéis de Dublin, são, verdadeiramente, a reconstrução da odisseia de Ulysses da epopeia homérica.
Bloom sai de casa para tarefas tão comezinhas como comprar comida para a mulher, ir aos Correios levantar cartas da sua amante e para as suas funções de publicitário….e acaba por perder-se no dia e na noite de Dublin. O regresso de Bloom à sua Ítaca, a sua casa, após gloriosa bebedeira, escorraçado de mais um bar, culmina, tal como Ulysses, uma verdadeira peregrinação por tudo o que de perigos e prazeres foi criado por mãos e mentes humanas.
Pisando o pé para conhecer os caminhos, Joyce, através de Bloom, dá a conhecer culturas, filosofias, línguas, maneirismos, religiões, preces, magias e erotismos, sem esquecer as famas etílicas irlandesas.
Enfim, um livro enciclopédico, difícil, denso, a que o leitor tem de voltar inúmeras vezes. Um livro cuja edição esteve proibida na velha Inglaterra até 1936 e nos Estados Unidos até 1933, por ser considerado obsceno! E no entanto, os sábios da literatura incluem-no entre os 50 melhores livros de sempre. E não poucos atribuem ao livro de Joyce a verdadeira criação do discurso narrativo do romance moderno.
É o meu livro de cabeceira, apenas porque do engenho da sua trama narrativa, mas também das suas variadas complexidades, é obrigatório voltar a ele amiúde, até para o compreender melhor. Já agora, o tão mundialmente celebrado Bloomsday comemora-se no próximo 16 de Junho.
Osvaldo Castro(reeditado)
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