sábado, 13 de novembro de 2010

Não confundir os desejos com a realidade...ou da necessidade de concentração nas tarefas do Orçamento

Parece evidente para qualquer observador que, face aos resultados de maioria relativa decorrentes das eleições de 27 de Setembro de 2009 e num contexto de grave crise internacional e consequentes reflexos na vida interna do país, o ideal teria sido a constituição de um governo de coligação parlamentar maioritária, ou de incidência parlamentar com apoio sustentadamente garantido.
Tal como é conhecido, José Sócrates convidou todos os partidos com assento parlamentar para discutirem e considerarem essa possibilidade.
Como é sobejamente conhecido, o primeiro ministro enfrentou um muro de negação por parte de todos e cada um dos partidos, quer à direita quer à esquerda do espectro parlamentar.
À época imperou o calculismo eleitoral e o taticismo da generalidade dos partidos, numa espécie de retaliação pela maioria absoluta com que Sócrates governara entre 2005/2009.
Tudo para dizer que parece inapropriado que dirigentes partidários e/ou governamentais,objetivamente, perturbem o processo de discussão na especialidade do OE, num momento em que o governo reabriu negociações a tal propósito com o PSD e a pouco mais de 10 dias da votação final global do Orçamento.
É óbvio que, nas actuais circunstâncias políticas, qualquer mensagem de natureza política que abale a credibilidade do primeiro ministro põe desde logo em causa a estabilidade governativa e, mesmo que não desejados, contribui para efeitos muito perniciosos em matéria de estabilidade governativa e para desastrosos resultados junto das percepções e avaliações dos mercados financeiros.
As propostas que possam ter o condão de transmitir algum estado de desorientação, por não terem em conta a realidade política existente e os respectivos enquadramentos constitucionais indispensáveis à constituição de um qualquer novo governo, só favorecem objetivamente as pretensões eleitoralistas do PSD e, mesmo que inadvertidamente, só contribuem para pôr em causa a direção política e governamental de Sócrates.
Vale por dizer que a coragem de tudo fazer para retirar o país da maior crise dos últimos 80 anos é incompaginável com o pânico de poder ser derrotado em futuras eleições legislativas.
Se os deveres para com os fundamentais desideratos do país o impuserem, tal não deve obstar a que o PS o assuma com frontalidade, em detrimento de hipotéticas coligações que, na actual conjuntura, mais não parecem que meros desabafos ou estados de alma que as oposições sempre rejeitarão.
Creio que, ao invés de optar por uma via de remoto facilitismo, que o PSD sempre rejeitará, mais valerá assumir, como tem sucedido, as rédeas das responsabilidades, sempre tentando negociar com vista a alargar a base de apoio às propostas orçamentais.
Depois do Orçamento viabilizado outro dia nascerá e com ele as responsabilidades pela sua efectiva execução.É nisso que o governo e o PS devem estar concentrados.

6 comentários:

Bettencourt de Lima disse...

Por uma Democracia sem votos ( ou sem povo ), viva a República de Platão, de Sócrates definitivamente , não.

A direita, bom não insultemos a direita, esses agrupamentos que vulgarmente entre nós se designam de direita, esgotada a politica da insidia e da calúnia, duvidando do povo e das sondagens feitas à Lapa, agora ensaiam uma nova estratégia : chegar ao poder sem votos , pois isso de votos é sempre muito pouco Seguro. Arauto desta estratégia, bom quem seria mais adequado? Pois, Paulo Portas, sim aquele que navega no mar da Palha, ou melhor rente ao fundo, responsável por mais de mil milhões em submarinos e em financiamentos partidários titulados por nomes jocosos como Jacinto..por pudor fico por aqui.

Em nome da salvação nacional, receando enfrentar a tempestade que aí vem, concluindo que sem o PS (ou contra)é tarefa impossível, cientes que o novo líder só produz patetices, aí estão eles disponíveis para salvar o país . Esquecem-se que nos momentos mais tormentosos da nossa história, enquanto grande parte das nossas «elites» se vendia a Espanha, foi o povo capitaneado por bastardos que conduziu Portugal á vitória.

Todavia isto de povo sai muito caro, então educá-lo, dar-lhe saúde , reformas, bom isso está bom lá para o centro e o norte da Europa pois essa malta lá trabalha. Aqui eles só produzem na Auto-Europa, vai-se lá saber porquê …mistérios.

Por isso Salvação Nacional sim ,mas aquela de Platão, eleito mas não elegido, a de Sócrates definitivamente não.

PS.O responsável pelo maior roubo da história portuguesa, já se passeia em liberdade, essa é outra República…a dos juízes.

jose albergaria disse...

Caro Osvaldo,
Vou prantar este seu post lá na minha rua: pensamento de uma clareza cristalina, este seu.
O que importa é isolar o importante.
Você fá-lo muito bem e com pensamento articulado, como é seu timbre e hábito.
Agora, ambos sabemos, que a politica é tocada por homens, que, não raras vezes, deixam-se guiar pelas emoções, pela intuição, concentrando-se mais no EGO do que no interesse nacional.
Depois...bem, depois são os vários poderes (Governo, Assembleia da República e Presidência)que podem, em vez de se equilibrarem e compensarem, entre si, estatelar ruidosamente a urgente e necessária estabilidade politica para enfrentar esta medonha e feroz crise...e parti-la em bocados - dificeis de consertar.
Abraço,
J. Albergaria

Carta a Garcia disse...

Caro Bettencout de Lima,

Sufrago na sua essência a linha exposta no S/ Comenta´rio, que agradeço...
OC

Carta a Garcia disse...

Caro José Albergaria,

Agradeço a honra que confere a "A Carta a Garcia" ao publicar "in totum" um post deste blogue.
E desvaneço-me com as referências elogiosas que produz, imerecidas, digo eu.
Você é um grande Amigo...e o Mainstreet é um blogue de referência na nossa blogosfera.
Abraço de Amizade e gratidão,
OC

Ana Brito disse...

Caro Amigo Osvaldo
Mais uma vez um excelente texto norteado pela ideia moderna da racionalidade global da vida polítca e partidária e pelo apelo ideológico dos princípios do socialismo enquanto guião do interesse e da capacidade governativa, ordenado por um pensamento liberal onde não se admitem adamastores e no qual se pugna por ideias distintas e claras acerca delas.
No seu articulado podemos encontrar, com maestria, a reconstrução de um arquipélago de racionalidades locais, adequadas e potenciais, democraticamente formuladas por uma inteligência interpretativa à luz do verdadeiro socialismo.
Grande Abraço com Amizade :)
Ana Brito

Carta a Garcia disse...

Cara Ana Brito,

O real propósito é sublinhar que, não obstante as dificuldades de conjuntura, os socialista é que venceram as eleições há apenas um ano...Com a pressão internacional e também com a demagogia das oposições de cariz nacional, há, por vezes, socialistas, que tremem por poderem vir a perder o poder por via legítima...Daí a sugestão de propostas que revelam pouca conciliação com a realidade actual.
Creio que todos percebemos que a oposição o que quer é empurrar Sócrates para o cadafalso, mesmo não o tendo logrado com as sucessivas tentativas de inquéritos parlamentares, inquéritos penais e quejandos...
O PS tem de estar firme e coeso em defesa dos interesses nacionais...
Se vier a perder em eleições por ter tomado medidas duras de salvação do país, isso é da política e da democracia.Deve aceitar-se!

Abraço Amigo,
OC